Não lembro bem que ano foi aquele, mas acredito que eu estava cursando a 7ª série, hoje 8º ano do Ensino Fundamental no Colégio Salesiano. As aulas de Educação Física sempre foram, para mim, um tormento. Além das pernas finas (à época, mais finas do que são hoje) que teriam de ficar à mostra por causa do short, minha falta de habilidade com a prática esportiva era latente. Não tinha jeito. Por mais que eu tentasse, eu tinha medo da bola, da rede, das cestas.
A professora Cida, depois de, sem sucesso, insistir para que eu participasse das aulas, decidiu me compreender. Em um dia de aula, tamanho foi meu alívio. “Você é das letras, pode ficar na arquibancada”. Sorri, feliz da vida. Ao menos naquele ano, estaria livre das aulas. Embora com nota reduzida, não ganharia faltas, desde que estivesse lá no horário. Trato feito.
Passou. Passei de ano, sem reprovar em Educação Física, o que seria uma tremenda vergonha. Não que eu esteja desmerecendo a matéria. Não é isso. Mas a magrela, que passava na “bruxa” Matemática, reprovaria em Educação Física? Era preguiça? Não, não era. Era vergonha pelo meu físico pouco atraente e completa inabilidade. Nada mais!
No ano seguinte, o professor Jorge passou a ser o responsável pela matéria. Lá iria eu, de novo, travar uma negociação com o professor, na tentativa de, assim como antes, me livrar das aulas. Sem sucesso. Professor Jorge disse que eu teria que fazer a aula, sim senhora! Como tive raiva! Mentalmente o xinguei muito, mas hoje, o agradeço, pois tive a oportunidade de retirar uma grande lição daquelas aulas. Vejam só…
Em uma manhã, era o dia de a turma treinar basquete. Para mim, não fazia tanta diferença. Não gostava nem de vôlei, nem de handebol, muito menos futsal. Com o basquete não era diferente. Naquela aula, o professor Jorge preparou o circuito e formou uma fila com os alunos. Após o alongamento, teríamos que tentar acertar a bola na cesta. Olhei para cima. “Como é alta! Não vou acertar nunca!”, pensei comigo. Lembrei das aulas com meu primo-irmão Arthur. Ele sabia da minha aversão à prática esportiva e me disse: “No basquete, tente jogar a bola no quadrado. É quase certo você fazer a cesta. Não é difícil, Lays.”. Era difícil sim, Arthur. E como era. Mas me lembrei do conselho dele. Não tinha outra alternativa a não ser, ao menos, tentar.
A fila andava. Meus colegas, em sua maioria, acertavam a bola na cesta. Quanto mais minha vez se aproximava, mais eu ia para o final da fila. O “Pode passar” funcionava, a não ser que eu encontrasse um(a) colega tão tímido(a) quanto eu. Mas depois de adiar o quanto pude, chegou a minha vez. Baixinha, magricela, com a bola na mão. Me posicionei, conforme orientou o professor. Lembrei das dicas de Arthur. O professor apitou. “Vai, Lays!”. Nada. Faltava coragem. “Vaaaaiiiii, Lays!”. Fui. Joguei a bola e ela caiu na cesta, certinho. “Acertei, professor!”. Vibrei! A bola caiu no chão e eu fiquei parada, observando. Tomei um susto, depois, com o grito do professor: “Vai, Lays! Dê a bola para o colega!”. Rsrsrsrsrsrsr Passei a bola e fui novamente para o final da fila. Tentei outras vezes, errei.
Mas quando resolvi, decididamente, tentar da primeira vez, consegui. Percebi que o medo é o nosso grande adversário. Como temos medo na vida, não é verdade? E esse medo, muitas vezes (ou na maioria delas) é o nosso maior inimigo. É o medo, a vergonha que nos faz pensar que não podemos, que não iremos conseguir. Depois daquele dia, eu continuei achando péssima a ideia de participar das aulas de Educação Física, mas concluí que poderia vencer qualquer obstáculo na vida. Bastava querer.
E tentar!